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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Laudo do IPC confirma falha humana em acidente com ônibus e 4 mortes

03/02/2017 11h30 - Atualizado em 03/02/2017 11h45


Ônibus invadiu calçada em João Pessoa e atropelou cinco pessoas.
Cinco meses após acidente, IPC confirmou não haver falha operacional.

Do G1 PB
Perícia em ônibus que se envolveu em acidente com três mortes foi realizada nesta terça-feira (13) em João Pessoa (Foto: Reprodução/ TV Cabo Branco)Perícia em ônibus que se envolveu em acidente com três mortes foi realizada nesta terça-feira (13) em João Pessoa (Foto: Reprodução/ TV Cabo Branco)
Depois de cinco meses, o Instituto de Polícia Científica (IPC) concluiu que o acidente envolvendo um ônibus de transporte público de João Pessoa em setembro de 2016 que deixou quatro mortos foi causado diretamente por uma falha humana. No laudo, divulgado na quinta-feira (2) os peritos responsáveis pelos exames no ônibus que invadiu a calçada da Rua Almeida Barreto, no Centro de João Pessoa, descartaram uma falha mecânica ou eletrônica como causa direta do acidente.
No dia 11 de setembro, um ônibus da linha 3200-Circular invadiu a calçada da Rua Almeida Barreto, no Centro de João Pessoa, e atropelou cinco pessoas. Três morreram no local do acidente, uma morreu três dias depois no hospital e a quinta ficou ferida, passou por cirurgias, mas sobreviveu.
Segundo Corpo de Bombeiros, vítimas ficaram presas as ferragens (Foto: Walter Paparazzo / G1)Segundo Corpo de Bombeiros, vítimas ficaram
presas as ferragens (Foto: Walter Paparazzo / G1)
Na conclusão técnica-pericial do laudo, os peritos responsáveis pelos exames, Lucio Flávio e Robson Félix, afirmam que "a causa determinante do acidente ocorreu, eminentemente, por erro operacional na condução do ônibus associada à falha humana, por motivos que não se pôde precisar materialmente". Ainda de acordo com o laudo, além dos exames no veículo envolvido no acidente, a conclusão é referendada por imagens gravadas por câmeras de segurança na área do acidente.
Na época do acidente, o motorista do coletivo afirmou ter passado mal e perdido o controle do veículo. A perícia feita pelo Instituto de Polícia Científica (IPC) também na época do acidente, descartou falha mecânica.
De acordo com o perito Robson Félix, a identificação da causa que teria levado o motorista a cometer a falha fica a cargo da Polícia Civil, que ouviu o condutor do ônibus e investiga o seu histórico de saúde. "Nós só trabalhamos na questão material, e neste caso, por se tratar de uma causa subjetiva, não é nosso trabalho precisar a falha humana", completou. O G1 tentou entrar em contato com o delegado Deusdedit Leitão, da Delegacia de Acidentes de Trânsito, mas até as 10h20 (horário local), as ligações não foram atendidas.
Carga horária exaustiva
Problemas de jornada exaustiva e acúmulo de funções por parte de motoristas de ônibus de transporte público de João Pessoa estão entre as causas dos 39 processos instaurados no Ministério Público do Trabalho da Paraíba entre 2015 e setembro de 2016. O desgaste físico e psicológico dos profissionais nos ônibus urbanos, evidenciado nas denúncias feitas ao MPT, voltou ao debate depois de um acidente envolvendo um ônibus que deixou quatro mortos na capital paraibana completar um mês na terça-feira (11).
De acordo com o Sindicato dos Motoristas da Paraíba, a carga horária diária dos motoristas do ônibus urbanos de João Pessoa é de 7h20, com um intervalo de uma hora. Ainda segundo o sindicato, normalmente não é permitido estender o expediente, mas eventualmente, alguns motoristas acabam fazendo uma hora extra diária. No dia do acidente, um domingo, o motorista do ônibus da linha 3200 havia pegado às 5h e na hora da tragédia, por volta das 13h, fazia sua última viagem.

No total, existem 177 processos registrados no sistema do MPT na Paraíba por irregularidades na jornada de trabalho dos motoristas. Cerca de 11 mil trabalhadores foram beneficiados com os processos.
Arimatéia Batista, irmão de João Batista Pequeno, comentou que o irmão segue sua recuperação com acompanhamento psicológico após ficar muito abalado com o acidente. Ainda segundo Arimatéria, seu irmão segue se recuperando bem, embora evite tocar no assunto. "Após a tragédia, ele ainda tem alguns momentos de tristeza, mas segue se recuperando", cometou. De acordo com irmão, João Batista Pequeno havia folgado no dia anterior do acidente. "Não tem um horário fixo, todo final de semana muda de acordo com o ônibus. Tem motorista que pega às 4h e só vai sair de tarde. Naquele dia do acidente ele tava fazendo a última viagem", explicou.    

Motorista nunca havia se envolvido em acidente
A Unitrans, empresa da linha do ônibus dirigido por João Batista Pequeno da Silva, informou que que o funcionário "ficou de licença médica na primeira quinzena após o ocorrido, sendo neste período acompanhado pelos psicólogos da empresa, e depois entrou em gozo de férias, onde permanece até o final de outubro". "Motorista desde 2012, ele nunca se envolveu em acidentes e não tinha em sua ficha profissional nenhuma reclamação pela sua condução", destaca em nota.
O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa (Sintur-JP) também foi procurado, mas o presidente do sindicato, Mário Tourinho não se encontrava no momento do contato.
Maria de Lourdes e Vitorino (ao centro) celebraram aniversário um dia antes do acidente em João Pessoa (Foto: Kléber Barros/Arquivo Pessoal)Maria de Lourdes e Vitorino (ao centro) celebraram aniversário um dia antes do acidente em João Pessoa (Foto: Kléber Barros/Arquivo Pessoal)
Sobrevivente passou por duas cirurgias
Maria de Lourdes Nascimento, de 51 anos, esposa e avó de duas das quatro vítimas mortas, foi informada sobre a morte de parte da família no acidente somente no final do mês de setembro, quando se recuperou das fraturas no braço e na perna decorrentes do atropelamento. Kléber Barros, genro de Maria de Lourdes, explicou que a sogra chegou a receber alta médica, mas precisou retornar ao hospital para tratar de uma infecção na perna que havia fraturado.
“Ela precisou ser internada de novo para fazer um procedimento de raspagem. Ela ficou sabendo da morte do marido e da neta logo após concluir as cirurgias, com uma equipe médica junto. Ela está reagindo bem, se conformou”, relatou Kléber. Ainda de acordo com o genro, ainda não há previsão de alta.
No acidente morreram Francisco Vitorino, de 72 anos, Ana Larissa Silva Nascimento da Costa, de 8 anos, esposo e neto de Maria de Lourdes, Jesser Dias dos Santos, de 40 anos, que estava com a família no momento do acidente, e Alex dos Santos Silva, de 27 anos, que passava pela Rua Almeida Barreto quando o ônibus invadiu a calçada.

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